TEXTO EVA RODRÍGUEZ | ILUSTRACIÓN ISTOCK
E é o mesmo que ser resistente? Não exatamente. Imagine uma árvore robusta e um junco frágil ao seu lado. Quando há uma forte rajada de ar, pode haver um momento em que a árvore, embora firme, pode rachar e se quebrar. A árvore é resistente, mas também quebra, pois falta a ela algo que o pequeno junco tem: quando a rajada o atinge, ele se dobra, se adapta, muda de posição e, quando o ar cessa, ele retorna à sua forma anterior sem sofrer danos. O junco é resiliente.
Se definirmos resiliência como uma transformação positiva que a pessoa experimenta ao resistir e superar as adversidades, então parece óbvio que, em tempos de crise como a que estamos enfrentando devido à COVID-19, trata-se de uma capacidade que deve ser treinada.
Vamos falar sobre as variáveis da resiliência que condicionam os diferentes cenários que podem ocorrer. Se os desafios em nosso ambiente não mudarem, ou mudarem pouco, podemos permanecer passivos diante da situação ou, ainda, acomodados a ela.
À medida que os desafios que enfrentamos aumentam, dependendo de quão desenvolvidas estejam nossas habilidades, podemos sentir ansiedade ou, pelo contrário, termos a sensação de desafio. Estamos vivendo, nas palavras de António Guterres, Secretário Geral da ONU, o desafio “mais árduo” que a humanidade enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso, em um primeiro momento, é normal sentir ansiedade, por maiores que sejam nossas habilidades.
Entretanto, se nos esforçarmos, veremos um desafio (ou mais de um) nessa nova situação, e ver um desafio é diferente de ver uma ameaça, porque envolve capacidade, imaginação, aprendizado e crescimento.
A capacidade de perceber desafios novos em situações de crise nos capacita a enfrentá-los e a testar estratégias diferentes.
Considerando que o modo básico de adquirir confiança em si mesmo é a própria experiência, se testarmos estratégias novas e que nos façam enfrentar as novas circunstâncias com êxito, ou, ao menos, que nos ofereçam a possibilidade de perceber certo controle diante da situação, ganharemos autoestima, e isso nos reforçará, ajudando a ter uma atitude positiva diante da vida apesar das circunstâncias.
Em todo o processo de aprendizado, ocorrem algumas etapas que culminam no crescimento pessoal. A resiliência é a capacidade que deve ser implantada nesse caminho entre o medo inicial diante de algo desconhecido e o crescimento produzido ao gerenciar, compreender e incorporar conceitos novos.
Durante essa crise, para trilhar o caminho que nos leve ao êxito, precisamos planejar quem queremos ser diante desse novo cenário e colocar em andamento as estratégias para crescermos e conseguirmos ser escolhemos.
Definimos la resiliencia como la transformación positiva que vive la persona al resistir y superar adversidades que se presentan
Que estratégias colocar em andamento para treinar a resiliência?
Respeite seus sentimentos. São normais e muito frequentes para todas as pessoas. Fale sobre eles, aceite a normalidade deles e sinta-se parte de um todo.
Autoconsciência. Reconheça seus pensamentos e sentimentos. Reflita se eles são úteis, mas não lute para mudá-los.
Focalização. Concentre-se no que está sob seu controle e influência. Essa é a chave.
Conecte-se com seu corpo. Respire e tome distância. Pratique alguma técnica de relaxamento ou meditação. Apoie-se em si mesmo(a), em suas motivações.
Comprometimento. Envolva-se com o que está fazendo e preste atenção ao que faz.
Compromisso. Elabore uma disciplina de ação e concentre-se em criar um hábito. Estabeleça objetivos realistas e cumpra-os.
Valores. Reflita sobre o que é mais valioso para você no âmbito de vida, pessoal e profissional, e tire proveito da situação esclarecendo sua escala de valores.
Preocupação: o maior freio
Embora estejamos decididos a colocar em prática tudo o que foi mencionado anteriormente, quando começamos a trabalhar, somos frequentemente assaltados por preocupações com várias ameaças: como será o mundo após a crise? Como isso afetará meus familiares? Como isso me afetará? Serei capaz de enfrentar essas mudanças?
Esse momento em que a preocupação nos invade não é novo, e nós já o sentimos diversas vezes. Isso é muito parecido com o que já nos aconteceu em outras situações novas que possam representar uma ameaça para nós. Já a experimentamos diversas vezes e podemos enfrentar novamente. Vamos pensar nas vezes em que, na vida, enfrentamos situações temerosas e saímos delas com sucesso. Como fizemos isso? Qual foi nossa estratégia vencedora? Começamos a pensar em coisas que não podemos controlar? Ou talvez tenhamos passado para a ação? Na verdade, foi assim. Trocamos a nossa preocupação pela ação e fomos realizar aquilo que estava em nossas mãos.
O que acontece é que quanto mais nossa preocupação diminui, mais sobra espaço para a ação e maior é a probabilidade de influenciar o resultado com uma conduta eficiente.
E o que acontece se fracasso na tentativa de ser mais resiliente?
Quando começamos a aplicar as estratégias estabelecidas em nosso dia a dia, é muito provável que, em um curto prazo, não realizemos grandes coisas. O sucesso está em continuar tentando. Tudo bem se não der certo da primeira vez.
Além disso, em uma situação de crise, é mais fácil cometer erros. Se nos concentrarmos neles e focarmos na culpa por tê-los cometido, o problema só vai piorar. Em vez da obsessão com o passado, e com o que foi feito de “ruim”, vamos normalizar erros próprios (e também os dos outros) e procurar as lições aprendidas, que nos permitam enfrentar melhor o presente, com mais habilidade e com um otimismo maior.
Cada erro cometido vai nos permitir:
- Fazer um balanço e identificar suas causas internas e externas
- Obter aprendizados novos
- Olhar para frente, para saber o que fazer no futuro
- Buscar ajuda ou inspiração para tentar novamente
Aplique a seguinte máxima: “às vezes se ganha, em outras, se aprende”.
“O homem que se levanta é ainda mais forte do que o que não caiu.”
Victor Frankl, neurologista austríaco, psiquiatra e filósofo, fundador da logoterapia e análise existencial
Qual é a nossa responsabilidade? Nossas emoções são tão contagiosas quanto os vírus!
Embora pareça mais lógico pensar que estamos tristes, abatidos, desanimados, como fruto da situação em nível mundial – e por isso nos desculpamos quando deixamos de fazer algumas coisas, ou fazemos coisas inadequadas – nossas ações e sentimentos nos acompanham e se influenciam mutuamente, com uma peculiaridade: as ações são voluntárias, os sentimentos, não.
O que fazemos ou deixamos de fazer está sujeito à nossa vontade, e se agimos de maneira positiva e otimista, nosso estado de espírito vai melhorar automaticamente.
Além disso, estamos programados para contagiar e sermos contagiados pelas emoções. Trata-se de um processo produzido, principalmente, por meio dos neurônios-espelho.
Para que a situação melhore, é nossa responsabilidade agir de modo otimista e alegre, procurando avançar em direção à normalidade e não cair no abandono. Essa é a única forma capaz de reverter a espiral de medo, inatividade e tristeza, e transformá-la em esperança, otimismo, atividade e alegria.
Reflita: o que posso fazer? Dê a si mesmo(a) a oportunidade de provar que é capaz de fazer! Seja ativo(a) e busque a satisfação em seu interior apoiando-se em suas motivações!