Felizmente, hoje em dia não enfrentamos perigos mortais com muita frequência… mas nosso organismo continua lançando as mesmas respostas que permitiram que o ser humano mais primitivo ativasse seu sistema de reação diante de um perigo (normalmente a morte). Em termos evolutivos, o estresse e seu complexo mecanismo significaram a sobrevivência da nossa espécie, já que permitiram uma melhor adaptação ao meio.
TEXTO Área Corporativa de Recursos Humanos | FOTOS Thinkstock
O estresse, a grosso modo, é uma resposta primitiva de um organismo diante de perigo. Tratase de uma resposta fisiológica, que implica uma série de sintomas físicos associados que possuem basicamente a missão de preparar o indivíduo para lutar ou fugir. A resposta ao estresse foi perpetuada na espécie humana porque o indivíduo que tinha seu sistema de reação mais aperfeiçoado diante do perigo era o que mais tinha oportunidade de sobreviver e se reproduzir.
Desde quando o estresse é conhecido?
O estresse sempre existiu, mas os primeiros estudos sobre o estresse foram realizados por Hans Seyle (1907-1982), que em 1950 publicou sua pesquisa mais famosa: “O estresse, um estudo sobre ansiedade”. Selye descreveu todo um conjunto de sintomas psicofisiológicos que seus pacientes apresentavam, independentemente da doença que sofressem e o chamou de “síndrome de só estar doente“. Observou que seus pacientes sofriam transtornos físicos que não eram causados diretamente pela sua doença. Estes sintomas, a grosso modo, consistiam em cansaço, alterações de apetite, mudanças de peso, astenia, etc. Assim chegou a definir o estresse com uma “resposta corporal não específica diante de qualquer demanda feita ao organismo, quando esta demanda ultrapassa os recursos disponíveis“. Esta definição continua vigente atualmente.
Quais processos físicos acompanham a reação do estresse?
Selye suspeitava que existia algum mecanismo no corpo que respondia de forma geral aos “agentes nocivos“ externos. Em pouco tempo, chegou à conclusão de que este mecanismo era controlado pelas reações entre o hipotálamo, a hipófise (pituitária) e as glândulas suprarrenais.
O que é conhecido atualmente como eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (eixo HHA ou HPA). Trata-se de um sistema neuroendócrino pelo qual, diante de estímulos recebidos pelo organismo, são liberadas substâncias que desencadeiam umas ou outras reações.
As interações entre estes três órgãos controlam as reações ao estresse e, além disso, regulam vários processos do organismo como a digestão, o sistema imunológico, as emoções, a conduta sexual e o metabolismo energético.
Muitos organismos, desde os seres humanos até os mais simples, compartilham componentes do eixo HHA. Este mecanismo e seu conjunto de interações entre glândulas, hormônios e partes do cérebro são responsáveis pelos sintomas que acompanham o estresse.
As consequências físicas da ativação permanente deste eixo podem derivar frequentemente em problemas digestivos, redução da capacidade cognitiva, presença de mais doenças e de maior intensidade (como consequência de um sistema imunológico alterado), contratura e problemas musculares, enxaquecas, insônia, etc.
O estresse pode ser eliminado?
Não é possível nem convém. O segredo está em administrá-lo, pois vimos que o estresse é a resposta automática e natural do nosso corpo diante de situações que nos parecem ameaçadoras ou desafiantes.
A vida e nosso meio em constante mudança fazem com que muito frequentemente surjam situações que envolvem um risco ou um desafio e que, portanto, exigem contínuas adaptações. Por isso, experimentar certa quantidade de estresse ou ativação é necessário, além de benéfico.
O problema ocorre quando a resposta ao estresse (ativação do eixo HPA) dura muito tempo e se torna quase permanente, pois então o organismo pode se esgotar e adoecer, além de não conseguir enfrentar bem as exigências do ambiente. Neste momento é preciso agir para controlar este conjunto de sintomas e poder então administrar nosso estresse.
Definitivamente, o que é preciso para enfrentar com sucesso as demandas do dia a dia é um “botão que desconecte“ nosso eixo HPA, para controlar os sintomas no momento em que comecem a ser produzidos e aproveitar positivamente a ativação que todo este complexo processo implica. Desta forma, se conseguirmos administrar adequadamente nosso estresse, aumentaremos nossa RESILIÊNCIA.
O que se entende por resiliência?
Imaginemos por um momento a capacidade que os juncos possuem para se dobrar sem que se quebrem nem sofrer danos diante de um forte golpe de ar. Uma árvore pode parecer mais forte, mas com certeza quebrará muito antes do junco diante de um vento forte. Com esta simples metáfora é possível compreender bem ao que estamos nos referindo. A resiliência é a capacidade que o ser humano possui para superar as adversidades e ser capaz de ter um desenvolvimento de sucesso apesar de circunstâncias negativas. Quando uma pessoa gerencia bem seu estresse, aumenta sua resiliência e é mais provável que tenha sucesso em suas relações com o meio (profissional, pessoal, de casal…).
Como o estresse é administrado?
Já vimos que:
• O estresse não é apenas um processo psicológico, tratase também de um conjunto de sintomas físicos que um organismo experimenta diante de uma exigência excessiva do seu meio.
• Não é possível nem se deve fazer esforços para eliminar completamente o estresse, porque ele permite agir diante dos problemas ou desafios que surgem.
• A probabilidade de ter sucesso diante de uma situação difícil, nova e, definitivamente, “estressante“ está relacionada com a nossa capacidade de “desconectar“, de sermos mais resilientes.
Como podemos conseguir isso?
O conhecimento das premissas anteriores é tão importante quanto adquirir novos hábitos e esquemas de pensamento e para isso só é preciso ter prática.
Pratique alguma técnica de relaxamento: fazer isso frequentemente e com constância nos ajuda a poder relaxar em poucos minutos. Há diversas técnicas de relaxamento. Quase todas, ou pelo menos as mais efetivas, baseiam-se no controle da respiração e na tomada de consciência da musculatura e das sensações corporais. A prática diária é muito conveniente, fundamentalmente para conseguir frear a ativação do eixo HPA e recuperar o equilíbrio. Podem ser o “botão“ que estávamos buscando.
Melhora e/ou mantém uma boa forma física: uma alimentação saudável, unida à prática de exercício físico frequente, é uma receita infalível para diversos problemas. Para gerenciar o estresse também é efetiva, já que se sentindo melhor fisicamente é mais fácil enfrentar situações complicadas.
Melhora e/ou mantém sua saúde psicológica: com isto nos referimos a algo muito amplo e às vezes difícil de realizar por si mesmo. Hoje em dia parece algo já assumido que, da mesma forma que se consulta um médico diante de um problema de saúde, às vezes é preciso da ajuda de um profissional da psicologia para enfrentar com sucesso situações que podem ser um pouco mais complicadas. Na hora de enfrentar o estresse com sucesso, é fundamental possuir recursos disponíveis como assertividade, capacidade de organização, manutenção de expectativas realistas, expressão adequada das emoções, etc.
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