O relatório Panorama do Serviço de Estudos da MAPFRE analisa a situação econômica global e em diferentes partes do mundo, com especial atenção na evolução do mercado segurador.
TEXTO Luz García Cajete | FOTOS Thinkstock
O Serviço de Estudos da MAPFRE apresentou recentemente uma atualização do seu relatório Panorama econômico e setorial 2017, um estudo que analisa trimestralmente as perspectivas econômicas mundiais e do setor segurador.
De acordo com dados do relatório, o crescimento global durante 2017 será de cerca de 3,1%, o que significa um leve aceleramento com respeito ao ano anterior, mas ainda se afasta dos registros prévios à crise global.
A atividade econômica durante 2017 vai apoiar-se em um melhor desempenho dos mercados desenvolvidos, no crescimento da China e em uma maior resiliência do que a prevista nos mercados emergentes, que poderiam apresentar crescimentos de 4,6% diante de cerca de 1,9% esperado nos mercados desenvolvidos.
O relatório analisa também a situação nos principais mercados: Estados Unidos, Zona Euro, Espanha, Alemanha, Itália, Reino Unido, Japão, Turquia, México, Brasil, Argentina, China, Indonésia e Filipinas.
Para a Espanha, o relatório prevê uma suavização do crescimento, com um aumento próximo a 2,5% durante 2017, longe do máximo registrado nos anos anteriores. Espera-se uma desaceleração do consumo privado, ao serem previstos aumentos salariais inferiores à inflação, e do público. Esta redução será compensada em parte com um maior vigor no investimento, especialmente no setor residencial.
Nos EUA, as previsões indicam um crescimento de 2,3% para 2017, como consequência de um menor dinamismo da renda disponível real provocado pelo rebote da inflação e pelo moderado crescimento dos salários. Neste país são observados maiores riscos à queda nas previsões do relatório Panorama, dada a lenta materialização da política econômica da Administração Trump e, financeiramente, à possibilidade de que a Reserva Federal acabe subindo os tipos de juros mais rápido que o previsto.
As previsões de crescimento na Zona Euro são próximas a 1,5% entre 2017 e 2018, como consequência de um melhor ambiente para o investimento empresarial e da demanda global.
Na Turquia, espera-se que a economia continue seu ajuste gradativo, registrando maior desaceleração do PIB até 2,3% em 2017. Este comportamento será devindo à desaceleração da demanda doméstica, que impulsionou o crescimento em 2016. O investimento também sofrerá uma desaceleração.
No México, espera-se que o crescimento seja fraco ao longo de 2017 (inferior a 2%) e com elevados riscos de queda. O consumo privado irá perdendo capacidade à medida que a política monetária se endurecer e a renda disponível real se desgastar devido à inflação. O investimento e o setor exterior diminuirão o crescimento, bem como a incerteza política que mina as expectativas corporativas e do consumidor.
No Brasil, com um desempenho atual muito fraco e pobres perspectivas de recuperação, o crescimento do PIB em 2017 será próximo a zero. A inflação continuará elevada, mas o Banco Central recortará agressivamente os tipos de juros em 2017. A recuperação dependerá da credibilidade institucional e política, muito minada, mas essencial para frear a redução ao valor recuperável do prêmio de risco e a desvalorização do real.
Por último, a economia chinesa, que começou 2017 com um sólido impulso em seu crescimento, convergirá lentamente em direção a taxas mais moderadas pela ação da política econômica do país, situando-se em 6,3%. São mantidos os riscos derivados da relação entre os desajustes do setor residencial, o excesso de crédito e a estabilidade financeira favorecida pelo governo em lugar do objetivo de crescimento.
Previsões na indústria do seguro
No que diz respeito aos mercados de seguro, o estudo prevê que a atividade da indústria global acelere durante os próximos anos, alinhada com as previsões gerais da atividade econômica. Os mercados emergentes estarão no topo deste crescimento, dada a existência de uma significativa brecha de proteção do seguro nestes países.
Por áreas, na Zona Euro as expectativas de melhoria econômica levam a pensar em um ambiente mais favorável para o desenvolvimento do setor de seguros, especialmente os segmentos de mercado de Não Vida e de Vida Risco, altamente correlacionados com o ciclo econômico.
Na Espanha, o maior dinamismo do setor residencial poderia compensar a moderação prevista no consumo, por isso estima-se que os prêmios de seguros do negócio de Não Vida poderiam ter aumentos nominais acima da média prevista para os países da Zona Euro. Por outro lado, a persistência do ambiente de baixos tipos de juros continua pesando no segmento de mercado de poupança de Vida e de rendas vitalícias tradicionais. No entanto, a recuperação dos tipos de juros livres de risco nos prazos longos pode favorecer sua comercialização, ajudada pela escassa ou nula rentabilidade dos depósitos bancários.
Quanto à Turquia, a desaceleração econômica prevista e a alta incerteza derivada das tensões domésticas e geopolíticas poderiam limitar a dinâmica de crescimento do negócio de seguros no país.
Nos Estados Unidos, estimase que os prêmios do negócio de Não Vida poderiam ter aumentos acima de 2,7% no período de 2017-2018, enquanto o crescimento previsto para os setores de acidente e saúde seria de 4,7% em 2017, para depois alcançar 5,1% em 2018. Da mesma forma, a materialização das subidas gradativas dos tipos de juros a longo prazo favorecerá o desenvolvimento do segmento dos seguros de poupança de Vida e rendas vitalícias.
No Brasil, os tipos de juros se encontram em valores abaixo dos mínimos de 2016 e continuam diminuindo, criando um ambiente complexo para o desenvolvimento dos produtos de poupança Vida e rendas vitalícias. Além disso, as características das políticas monetária e fiscal expansivas poderiam acarretar uma redução ao valor recuperável do real, com o impacto negativo consequente nos resultados do negócio de seguro, ao ser transmitida na estrutura de custos.
No México está sendo antecipado um panorama de crescimento e desempenho fraco para os setores de Não Vida e Vida risco, embora superior ao crescimento da atividade econômica geral. A previsão para o ramo de poupança de Vida e rendas vitalícias poderia ser favorável considerando os aumentos previstos nos tipos de juros por parte do Banco Central e as perspectivas de sustentação de uma política monetária restritiva. No entanto, a volatilidade continua alta, o que poderia causar efeitos nocivos.
Na China, em contrapartida, estima-se que as taxas de crescimento do segmento de seguros de Não Vida poderiam apresentar valores de dois dígitos no período 2017-2018, próximos a 20%. Por outro lado, a previsão da implementação de políticas monetárias por parte do banco central, tentando evitar novas desvalorizações da sua moeda, criam um panorama favorável para os negócios dos seguros de poupança de Vida e de rendas vitalícias.
O relatório Panorama realiza também uma análise das tendências regulatórias, globais e especificamente nos Estados Unidos e na União Europeia.